24 de julho de 2010

E no final tudo se ajeita :D

Hoje estava conversando com meus pais sobre filhos. Conversa normal, se não fosse por um detalhe, eu sou louca para ser mãe e não poderei ser do modo convencional. Acredito que isso não mexe somente com meus sentimentos, mas com os dois que me geraram também.

Um pouco antes dessa conversa eu perguntei pra minha mãe quando foi que ela sofreu mais no hospital, e ela me disse que foi no dia que me viu ruim e não pôde fazer nada. É quase essa a situação.

Eles me fizeram, cuidaram da forma que acharam que parecia a melhor. Se houve falhas, foi na tentativa de acertar. Não culpo ninguém por nada que aconteceu comigo. E eles por um momento estavam ali conversando sobre algo que eles conversam há vinte anos.

Imaginei minha mãe grávida, meu pai preocupado com ela. Ele disse sobre a rubéola que ela teve. Sobre a luta que eles tiveram comigo mesmo eu sendo um grão de areia. Imaginei a angustia que eles sentiram, mas também a felicidade de saber que eu vinha ao mundo com saúde, que eu tinha sim braços e que a luta que tiveram não foi em vão.

Por alguns instantes se passaram várias cenas em minha mente. Era passado, presente e futuro tudo se juntando. E aquilo tudo foi se mesclando, e quando eu vi estava em silêncio e meus pais cada um olhando para o outro. Aquele olhar dizia muito.

Quando eu tinha dezesseis anos descobri que meu útero é grande, desde lá venho lutando para não retirá-lo. Já fiz diversos tratamentos, várias opções de tratamento, já fiquei internada por conta de hemorragia, e outras diversas complicações.

E essa minha luta já foi longe demais. E o pior que essa luta não é só minha, é da família, dos amigos, dos médicos. Já chega! O que eu pude fazer eu fiz, o que dava pra ser feito foi feito, mas agora não tem mais saída.

Eu tenho lúpus, e esse é um dos motivos que meu útero tem esse “pequeno” problema. Como lúpus não tem cura, como já luto há 4 pela salvação do meu órgão, e não obtive bons resultados, esta chegando a hora de arrancar ele de mim.

E essa decisão não é fácil, aliás, é bem mais difícil que parece, acredite!

Tudo bem, para algumas pessoas ele é apenas mais um órgão do corpo humano, e para algumas mulheres o órgão que mais enche o saco por que “descama” a menstruação. Mas, tudo existe os dois lados da moeda.

Sim, eu me irrito com ele. Sinto dores terríveis, parece que estão arrancando algo de dentro de mim, e de fato esta saindo algo muito estranho. Sinto um incômodo terrível, já fiquei naqueles dias seis meses. Sim, mulheres seis meses, mas passou. Já fiquei internada várias vezes por conta da menstruação e enquanto estava no hospital, me revoltava, por que tanta coisa pra fazer eu lá internada por conta de menstruação. E o que mais me indignava era que esse período era “publico’ entre minha família, por que todos ficavam tensos, por que caso a coisa ficasse forte eu teria que correr para o hospital.

E por sinal, isso aconteceu há alguns dias. Fiquei sete dias internada por conta de uma pontada de pneumonia e hemorragia forte. Ou seja, não tenha mais privacidade em relação a isso. Fiquei esses sete dias e tive que receber duas bolsas de sangue, acredito que esse caso foi o mais grave, e o que bastou para dar o ponto final.

Vou contar um negócio pra vocês. No ano de 2008 eu iria tirar meu útero. Mas, o meu plano de saúde não autorizou a retirado do órgão, disse que era nova, por não ter filhos, enfim, desculpas não faltaram. Ai eu continuei com o tratamento hormonal e o teimoso diminuiu um pouco. Lembro que a cirurgia eles iriam autorizar em março de 2010, sim, esse ano, e naquele momento parecia tão longe. Eu me preparei toda para fazer essa cirurgia. Lembro que fui ao supermercado e bati em vários absorventes e disse que nunca mais iria usá-los, santa loucura a minha! [risos]

Eu tenho um médico que eu confio até de olhos fechados. Toda vez que eu sentia alguma dor eu ligava pra ele, podia ser apenas dor de cabeça, eu ligava pra ele. E ele sempre me atendia de forma delicada, me chamando de trem, mas tudo bem. Eu confio demais no meu ginecologista, afinal, ele me colocou no mundo. Acredito que essa confiança surgiu desde o dia em que minha mãe o procurou grávida, e ele disse que, se ela quisesse mesmo ter aquela criança, ele faria o parto. Afinal, ela recebeu vários nãos, até endereços de clinicas de abortos.

Então como eu confio no meu médico, eu sempre deixei a critério dele, se for para eu fazer a cirurgia, que faça. Se for pra eu tomar remédio, eu tomo. E assim foi por esse tempo. Estava fazendo uso de anticoncepcionais e estava até dando certo, mas houve diversos contratempos em minha vida. E um desses me impediu de continuar com o remédio, e parar o tratamento. E justamente nessa mesma época, o medico que eu confio até de olho fechado teve um infarto.

E eu estava sozinha. Sim, digo sozinha por que não tinha mais aquele senhor simpático que entende minhas manhas e fala que vai me colocar no colo pra me bater e puxar minhas orelhas. Mas, como Deus é bom, o deixou mais tempo aqui com a gente, no entanto, impedido de exercer a profissão.

Eu estava no hospital com uma forte hemorragia e não tinha um médico. Precisei correr atrás de um. E qual eu encontrei me deu uma solução, era colocar DIU – Dispositivo Interno Uterino, mas também não deu certo. Por mais que aquele senhor que me visitou no hospital me passasse confiança, eu precisava do outro senhor, aquele que me trouxe ao mundo, por que ele sim me conhecia.

E ai chegou uma hora que nenhum médico sabia o que fazer comigo. Eu não posso nem sonhar em enfiar hormônio no corpo. Não posso sangrar mais. E agora? O negócio era fazer a cirurgia e retirar o útero. Mas, sempre esses “mas” da vida. Eu tomo anticoagulante e não posso ficar sem. Ou seja, eu sangro muito e o risco de fazer uma cirurgia naquele momento seria grande.

Eu via minha vida sendo discutida entre eles, e não podia fazer muita coisa, a não ser esperar. No entanto, não era só o risco da cirurgia que intrigavam os médicos e sim o “mínimo” detalhe, o útero serve para ter filhos, e eu não tenho nenhum ainda. Ai entrou uma questão que complicou ainda mais. Eles tinham medo, queriam que eu entrasse na justiça com um pedido para que eles me operassem. Por que mais tarde eu poderia processá-los por ter tirado meu útero, isso e aquilo. Sério, eu nada legal, perdendo tanto sangue a ponto de precisar repor, e eles falando dessa forma. Nessa hora eu sentia mais falta do senhor que me trouxe ao mundo.

Eles decidiram que eu preciso retirar meu útero por que a qualquer momento posso ter uma hemorragia mais forte que aquela e acontecer o pior. Eu só precisar ir lá pedir pro juiz entender isso. Justo o juiz que estudou para ser “frio” em seus processos, e eu precisava de alguém que tivesse sensibilidade e visse que eu não posso mais esperar.

Mas, Deus agiu de novo. Aquele senhor que eu tanto confio disse que não pode me deixar que não é agora no final que vou ficar sozinha. E que vai fazer minha cirurgia. Ele é outro anjo em minha vida. Como ele esta se recuperando um amigo dele vai fazer junto, mas esta tudo certo. Não preciso ir lá pedir pro juiz, ele sabe que entre minha vida e ficar aguardando pra tentar ter um filho, eu opto por minha vida.

Um dia ele disse que eu até poderia ser mãe, mas que teria que ter um preparo todo.Que minha gravidez seria de alto risco. Minha mãe já sugeriu que eu engravidasse antes de tirar. Já ouve várias discussões sobre isso.

Deve ser por que não é fácil. Sabe aquele olhar que meus pais deram, que citei no começo do texto? Foi por que eu nunca vou sentir o que eles sentiram. Logo eu que sou louca por crianças e fico fazendo palhaçada e cara de boba quando vejo uma. Essa é a preocupação deles.

Eu sou uma pessoa que sonhava em ficar grávida de gêmeos, uma menina e um menino, por que eu queria ficar grávida somente uma vez. E eu queria aproveitar como ninguém essa gravidez. Acho que seria daquelas grávidas que carregavam o exame que comprovassem na bolsa e se possível pregava na testa.

Não sei, por mais que eu acho que mulher grávida parece uma patinha, acredito que são as patinhas mais felizes do mundo. Não posso nem imaginar como é sentir uma pessoa dentro de você, um ser nascendo, crescendo e se desenvolvendo. Não tenho noção de como é a sensação de chutes que uma mulher sente, não sei como são os enjôos, os desejos, as manhas, e não sei mais o que se sente nessa fase.

Não sei imaginar como é sair pra escolher a roupinha do bebê e ele dentro de você parecendo que esta escolhendo com você. Não sei como é a sensação, se é frio na barriga do primeiro ultrassom, ou da curiosidade de saber qual o sexo da criança, não sei como é ser a protagonista das brincadeiras de um chá de bebê. E muito mais, não sei imaginar como é dar uma noticia de que se estar grávida. E acho que isso esta cada vez mais impossível de eu saber.

Confesso que por mais que quero ser uma profissional bem-sucedida, eu quero ser uma mãe maravilhosa também. Por isso eu digo que queria sentir tudo isso, e muito mais. Queria aproveitar fase assim de minha vida para comer coisas estranhas e ninguém achar ruim, ou ser apenas mimada.

E esse meu desejo que é medo de meus pais. Talvez essa dor se pareça com aquela que minha mãe sentiu, a incapacidade e me ver sofrendo e não poder fazer nada. Talvez eles estejam certos em ter esse medo. Talvez minha mente esteja já bem trabalhada. Talvez meu emocional já aceitou. Talvez meu racional esta trabalhando em cima disso. Talvez eu já aceitei. Talvez eu tenha dúvidas. Talvez eu tenha medo. Talvez, talvez, talvez... A vida falará por si só.

O que eu tenho certeza é que se os médicos disseram que essa cirurgia pode ser de alto risco, eu confio em Deus. Eu confio na equipe que estará no local, eu sei da competência deles, e sei que tudo que estará no alcance deles eles irão fazer.

Eu sei que quando eu tinha onze anos eu achava um absurdo algumas famílias terem vários filhos, sendo que existem vários crianças em orfanatos. Quer mais uma talvez? Talvez meu inconsciente já sabia que é lá que vou buscar um anjinho para alegrar minha vida quando eu achar que tudo estará parado demais. Tudo tem seu tempo certo. E pode ter certeza que quem me conhece sabe como eu quero meu amor maior :D

3 comentários:

boo disse...

aaaaai naza, chorei horrores!
fica dificil comentar assim, mas vc vai ser uma mãe maravilhosa, pq tem uma pra se espelhar!
è facil pra gnt falar, pq a gnt tem a opção de engravidar, mas nao pense assim...
pense que Deus vai te dar o filho que vc deveria ter, e é sempre assim!
fciando grávida ou adotando, o filho que a gnt tem, é o qe Deus separou pra gnt!
e vc vai amar ele do jeito que sua mãe te ama, e ele vai completar sua vida muito mais do que vc pode imaginar!
entre a possibilidade de uma gravidez arriscada e da sua vida, escolha sua vida sempre,...até vc tr um filhinho, daí em diante, escolha sempre pela vida deele!

Anônimo disse...

Tenho certeza que você vai ser mãe de muuuuuuuitos filhos!!E, assim como Deus fez milagres na vida de Sara, de Ana, de Raquel...
Deus tb te dará filhos...biológicos ou não....serão SEUS filhos!!

Isa disse...

Vc será um anjo na vida de outro anjinho. Acredito q esse sentimento entre mãe e filho será muito + forte e tenho certeza q vc será uma mãe corujona e exemplar. Mãe é aquela q cria e n a q gera, pode parecer clichê, mas é a + pura verdade. Vc n vai sentir as tais sensações de grávida, mas viver intensamente a sensação de ter acolhido um anjinho em sua vida, um anjinho que já pode ter vindo ao mundo esperando só por vc para salva-lo da possível vida ruim q ele possa vir a ter.