17 de julho de 2010

Depois daquele suspiro...

Era uma quinta-feira, não recordo bem a data, mas final de maio. Eu estava já esgotada de permanecer naquele quarto e ver que minhas pernas não voltavam e isso iriam completar um mês. Estava esgotada de lutar, lutar e tudo parecer em vão, estava esgotada de sempre sorrir mesmo ás vezes sangrando por dentro, mas aprendi que devemos sempre ver o lado bom das coisas.

Pra mim aquele dia foi, era um dia chato. Não estava legal, parecia que o sol não brilhava como antes, que as pessoas não estavam tão alegres, que os sons estavam com ruídos, tudo estava muito estranho.

Não sei explicar essa sensação que sinto quando sei que algo vai acontecer, não vou chamar de premunição, por que acho essa palavra forte. Pressentimento? Talvez. Sensibilidade, até poderia ser.

Acordei com um nó na garganta, como se algo me dissesse pra eu tomar cuidado com alguma coisa, mas esse algo não me disse com o que. Fiquei assim o dia todo. Naquele dia tive febre, por aqueles dias estava tendo dores terríveis nas costas, que quando respirava doía demais. E essa dor era tão terrível que parecia que pressionava meu pulmão, não da pra descrever, e nem vou dizer que só sentindo, por que não desejo a ninguém.

Aquele foi o dia que eu não recebi visita e isso me indignava por dentro. Parecia que estava abandonada, sei lá. Quando foi mais a noite eu fui levada para a cama, sim levada, pois como não andava, era carregada e cada vez que era carregada me sentia pior.

Fiquei na cama calada. E minha mãe sempre ao meu lado, do nada eu comecei a falar, e parecia que eu não ia parar. Falei tudo o que estava engasgado. Em seguida chegou o Fábio, um grande amigo, e segurou na minha mão também. Ambos de cada lado da cama ficaram me escutando, e eu ali parecendo que estava arrancando tudo o que me incomodava, tudo aquilo que me agoniava.

Não sei se foi certo eu ter dito tudo aquilo, por que disse com muita revolta. Disse cosias que não devia talvez. Mas, estava cansada de esperar por coisas que não aconteciam, queria minha vida de volta, queria sair daquele hospital e viver no meu mundo de novo, queria que aquilo fosse um sonho, não sei, queria um refúgio naquele momento.

Lembro que disse que sabia que as coisas não haviam terminado, não sei como eu sabia, mas sentia isso, e me preparava para agüentar outras coisas que eu também não sabia o que eram. Mas sentia que precisava ser forte pra agüentar. Mas naquele momento eu era a pessoa mais frágil do mundo.

Só sei que em um momento da conversa eu falei pra minha mãe que não importasse o que acontecesse que não era para me deixar me levar para o CTI. Tinha pavor de lá, não podia me imaginar longe dela de jeito nenhum. E ela não me prometeu nada, apenas concordava comigo. Disse também que sabia que não tinha terminado e que tinha medo, muito medo do que poderia vir.

Meu desabafo terminou. Nesse intervalo chamei minha tia no hospital e ela foi eu precisava vê-la. Todos foram embora. Fiquei só eu e minha mãe. Eu falava pra ela que minha respiração estava difícil, que estava sentindo muita dor e ela não saia do lado da cama, acredito que ela me dava a mão com a intenção de me passar forças.

Quando foram onze horas da noite, eu chamei um técnico de enfermagem e disse que não estava bem, ele disse que aquilo tudo era angústia, diminuiu meu oxigênio e mandou eu dormir. Angustia? Podia até ser, mas minha dor não era imaginação.

Lembro que sentei, deitei... Segundo minha mãe dei um suspiro... O resto já não me recordo. Não tenho noção de quanto tempo durou tudo. Acho que se eu tivesse morrido naquela hora, terio sido uma morte muito rápida.

Acordei estava com máscara, um tubo na garganta, um bando de gente em cima de mim, e uma médica gritando pra eu respirar. Aquela cena pode passar anos que, eu acho que, jamais vou esquecer. E o pior, eu me vejo. A pior coisa, eu vejo certinho o que eles estavam fazendo comigo, cena de filme mesmo sabe.

Sei que tenho em mente as duas visões. A minha e a da equipe, não me perguntem de onde eu busquei a da equipe, ela simplesmente surgiu em minha mente.

Sei que abri o olho e vi tudo aquilo, não sabia o que eu estava fazendo ali. Ouvia gritos mais bem de longe, escutava a palavra “tubo” , “sobreviver”, “respira Aryana”, entre outras coisas, mas tudo em câmera lenta, parecia que eles estavam longe, e eu dormia e acordava em questão de segundos. Sentia parecia um secador de cabelos na minha garganta e uns tapas que eu não recordo onde.

Aquele “respira Aryana”, juro, parecia que meu cérebro não processava. Naquele momento eu não sabia respirar, era fora de meu universo isso. E nessa hora eu via uma menina desacordada em uma maca e um bando de gente tentado fazer ela acordar. Estranho, muito estranho, mas eu me vi ali dormindo feito anjo.

Do nada eu suspirei... Aquele suspiro eu acho que todos ali presente sentiram juntos. “Ela voltou”, escutei. Pronto, eu estava de volta.

Acordei ás 3 horas de manhã no CTI. Incrível, acordei bem! O rapaz que estava cuidando de mim não acreditou quando eu tentei levantar. Ele chegou e perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, e logo quis saber o que havia acontecido e o que eu estava fazendo ali.

Ele me explicou que havia chegado ali roxa, foi até engraçado o modo como ele me disse e a cara que eu fiz. Disse também que cheguei lá com minha pressão arterial 5 e a mínima não encontravam. Eu havia tido uma parada respiratória, meu pulmão havia infartado. E lá eu sabia que pulmão enfartava.

Naquela hora decidi que tinha mais que viver. Que não importava o que ainda viria pela frente, se eu havia resistido aquilo eu aguentava mais coisas. Eu praticamente tinha morrido e voltado. Eu decidi naquele momento viver, horas atrás eu havia desabafado, tinha sido preciso pra eu deixar tudo pra trás, que aquele nó em minha garganta tinha que sair mesmo, que eu precisava colocar pra fora tudo o que me fazia mal.

Naquela hora eu vi que Deus tem algo a mais pra mim, que não sei bem o que é, mas que Ele me da forças para agüentar. E que eu posso sim e devo lutar para ser feliz. Afinal eu ainda quero andar em alta velocidade em uma rodovia, pular de pára-quedas, fazer rapel, me formar em jornalismo, fazer outra faculdade, encher a cara, passar mais vezes a virada do ano na praia, conhecer mais gente, fazer matérias fodásticas, fugir de casa nem que for por uma hora, ir mais a Igreja, adotar uma criança, tirar meu aparelho, usar perucas coloridas, esmaltes malucos, pagar micos, falar alto quando for para falar baixo, levar broncas, pular, gritar, brincar, gargalhar, escrever livros, escrever abobrinhas, fazer cócegas, tirar fotos pra ficar na história, abraçar, beijar, comprar descontroladamente, fazer coisas sem noção,ser séria, ser adulta, não esquecer de ser criança e o principal ser feliz, curtir a vida.

Eu vi que ainda tenho muito para viver, e o que viesse seria aprendizado para encarar os fatos. E assim foi. Depois disso passei por coisas piores eu acho, não sei qual a gravidade ao certo de cada coisa. Mas agüentei, afinal meu foco é viver e dizem que se você fica instantes sem respirar, enxerga o mundo de maneira diferente! :D

9 comentários:

Luciana Ábrego disse...

Milagres ainda acontecem, basta a gente prestar atenção.Ganhamos a vida de presente e temos que tentar até o fim...

Anônimo disse...

Nossa, emocionante ler os seus textos, a sua forma de escrever. Tenho certeza que a força superior tem um grande proposito em sua vida. Continue sempre esse missão de levar as pessoas por meio das palavras escritas a esperança de dias melhores! Já sou seu fã! Parabéns Aryana, vencedora e escritora nata!

Aryana Lobo disse...

Oi Lu... Obrigada por acompanhar meus textos =] Tem tanta coisa pra publicar, mas eu me contenho hhehehe!!

-------------------------------------

Obrigada pelos elogios, e continue vindo por aqui, e da próxima esquece o anônimo e coloca seu nome! :D

Dayane disse...

Leio todo dia aqui... Fico emocionada sempre tbm, que merda né hahahaha
Bom, espero que continue escrevendo e que isso tbm te traga forças.
Ontem que fiquei sabendo da palavra "amigo" que tem no seu blog. Sinceramente, eu fiquei muitoooooooo triste, mas acho que vc nessa altura do campeonato, já sabe muito bem o que faz da vida!
Beijos
Fica bem.

Aryana Lobo disse...

Merda nada, sinal que meu texto ta razoável hahaha!!! Não tinha entendido o "amigo" mas depois de mto pensar, entendi hahaha!! #lenta mesmo!!! :D Brigada flor!

boo disse...

quero ver o mundo de uma forma diferente...
mas espero que nao tenha que ficar uns minutos sem respirar pra isso!
basta ler seus textos!
:)

Claudinha L. disse...

Não tem como não se emocionar. Vc realmente deveria ser escritora pq as coisas q vc escrevem me fazem parecer q estou junto com vc naquele momento. Vc é forte e ainda vai passar por muita coisa, mas sei q serão coisas pequenas diante do tamanho da sua vontade de vencer.
Obrigada por vc existir!

Aryana Lobo disse...

Boo :D

Se vc ler e conseguir tirar proveito deles, espero poder te ajudar sim :D

-------------------------------------
Claudinha, obrigada vc por existir e ainda fazer com que as pessoas se sintam importantes! :D

graziele disse...

olá,quanto mas eu leio sobre ariana mas me emociono ela e mesmo uma guerreira com uma alma de anjo uma linda mesmo deus te abençoe bjss