19 de maio de 2011

E quando o lado inverte é difícil...

Ano passado eu estava passando por tantas coisas nessa mesma época, que por mais que eu fale, lembre, nunca vou ter noção de tamanha era a gravidade, ou intensidade de tudo. A única coisa que eu sei é que eu queria sair daquele hospital e voltar andar, isso eram as coisas principais. Aprender tudo o que eu aprendi, era apenas conseqüência.

Agora eu me vejo do lado de fora e totalmente de mãos atadas. Ano passado eu recebia a visita praticamente todos os dias de um senhor moreno, baixinho e que adora fazer piadas com os outros. Ele é tão divertido que antes costumava se vestir de palhaço e animar as crianças no dia 12 de outubro.

Ele é terrível, no bom sentido, claro. Ele ia nem que fosse para me falar que tinha comido carne de churrasco e eu continuando no frango. Ele ia para me incentivar a comer o frango, a sopa, a sorrir, a acreditar e de algum modo a viver.

Definitivamente eu não sei o que fazer. Eu sempre achei que é melhor eu estar doente, que seja considerado egoísmo. Mas, sempre pensei que era melhor assim. Eu sei dos meus limites, eu sei que uma hora ou outra eu vou sair dali ou tudo vai acabar, e mais, estou vendo tudo acontecer. Mas, agora mudou. E eu não sei lidar com essa mudança.

Não sei ficar aqui do lado de fora sem saber como os enfermeiros estão tratando ele, sem saber o que médico esta falando, como ele esta sendo cuidando. O que eu sei que aquele senhor esta lá no hospital com o coração fragilizado, logo aquele coração que é tão bondoso.

Eu sei como é essa sensação horrível de não conseguir respirar, essa agonia toda. Mas, falar isso é bobagem, já passou, acabou, mas ele esta lá. Eu sei que quando eu passava mal, eu dormia. Deve ser essa a parte que entra meu egoísmo. Passa um filme na minha cabeça, eu querer trocar de lugar com ele. Mas, eu não posso.

Hoje estou do lado de fora, e fico nessa agonia. Nessa espera. Perguntei para minha mãe o que ela fazia, e ela me disse que apenas rezava. Não tem mais o que fazer. Então é o que vou fazer. Por que eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Por que ele foi o único que conseguiu fazer uma cirurgia ano passado e sair do hospital e ainda ir me ver. E foi tirar onda comigo, por que eu estava demorando em deixar o hospital.

Tenho certeza que ele vai sair daquele hospital para fazer aquele churrasco que ele sempre promete, para fazer a piada com o pé pequeno, para pentelhar a irmã mais nova, e para mostrar mais uma vez que é forte, e vai agüentar mais essa. Força tio Edgar, eu to aqui fora, querendo estar ai com o senhor e rezando para que Deus dê forças para superar tudo isso.

16 de maio de 2011

Por que homenagem é pouco! ;)

Uma frase que ficou na mente: “Eu deixei de dormir várias noites e fui lá te ver”. Fiquei pensando, como explicar isso? Muitas pessoas não conseguiriam e desistiram, mas eu sou insistente e vou ao menos tentar!

Sabe quando você esta totalmente desprotegida, e, Deus decide mandar um anjo para começar a arrumar as coisas? Ou até mesmo para dizer que tudo no final dará certo? Então foi isso que aconteceu!

Eu não sei o que realmente ocorreu no dia 7 de maio de 2010 em minha vida. O que eu sei é que quando minha mãe estava perdendo a esperança e não tinha mais ninguém para pedir ajuda, ele surgiu. E por mais que minha mãe falasse que não sabia quem era e no fundo também desconfiava, o caso foi assumido.

Talvez se naquele momento não estivesse passando por aquele hospital, ou se não reparasse no desespero de uma mãe, eu não estaria a escrever hoje. Não sei. A única coisa que eu sei é que fui salva. E isso eu só tenho que agradecer.

Eu sei que tenha sido bem ingênua com a pergunta no dia seguinte, perguntando quanto tempo ficaria naquele hospital. E eu acreditava que era exagero estipular 20 dias. Eu precisava viver, e ficar ali por tanto tempo me tirava o sossego. E aquele médico achava que eu tinha tempo pra parar, e eu nem tinha.

E os dias passaram, e eu fiquei. E nessa hospedagem ocorreram tantas coisas, mas, tantas coisas mesmo que mudaram minha vida. E se não fosse o cuidado que tive, talvez nem estaria aqui.

Sempre fui muito curiosa e isso às vezes irrita. Mas, ele sempre teve paciência com aquela que passou a chamar de “pancadinha”. Um dia me disse que havia me puxado de um precipício por uma linha. Nunca entendi ao certo o que quis dizer com aquilo. Mas, eu aceitei e grudei na linha.

E foram dias de luta. Dias que eu cheguei a pensar que não passariam. Dias em que eu questionei o porquê de tudo aquilo. Dias de quase perdi a esperança. Dias que se passaram e se for pra pensar nem demoraram tanto assim. E foram nesses dias que eu vi a luta de uma pessoa que eu nem conhecia e que se dedicava tanto.

Sabe a frase ali de cima? “Eu deixei de dormir várias noites e fui lá te ver”... Então. Existiam madrugadas que eu acordava e lá estava ele conversando com minha mãe. Lembro que uma vez eu escutei dela que quando chegasse não era para encher de perguntas por que passava tarde e poderia estar com pressa. Não resolvia ela me dizer isso.

Era só o ele entrar naquele quarto que parecia que a mente “pacanda” começava a funcionar de forma mais agitada. Era por que eu queria sabe tudo o que estava acontecendo, e eu precisava saber tudo o que estava acontecia. E na maior tranqüilidade o senhor dizia. Existiu até vezes que parou para escutar as anotações que eu fazia no caderno. Tamanha era minha curiosidade, eu fazia lista para que na hora da conversa não faltasse nenhum item.

E acredite, depois da visita do médico, eu ficava matutando as coisas. Eu acredito, ou agora tenho consciência que eu ficava tentando bolar um plano mirabolante para fugir daquele hospital e pela porta de frente ainda.

Mas, algo me impedia não é. E aquelas pernas não funcionavam e parecia que elas estavam de brincadeira conosco. E eu chegava acreditar que eu estava em algum really show e que qualquer hora as cortinas abririam e eu veria que acabou tudo. Mas, os dias passaram, as lutas vieram. E eu via que esta ficando difícil.

Teve um sábado que eu tive medo. Alias, foi um dos dias que eu mais tive medo. Foi por que aquele anjo que não vestia branco, disse em alto e bom som que não estava dando conta de mim. E mais, disse que estava entregando meu caso para outra pessoa. Quando eu ouvi que eu estava escorregando entre seus dedos e ele nada podia fazer. Eu me senti perdida, por que naquela altura era somente em quem eu confiava. E eu acredito que para um médico chegar e dizer que não esta sendo capaz de cuidar de um paciente, é que ele é muito capaz de cuidar, por que isso se chama humildade.

Mas, dizem que um anjo sopra no ouvido né. Ele soprou e deu tudo certo. Foi uma luta. Uma luta cansativa, que tem horas que até eu nem lembro. E eu tinha a força, o apoio. E não só eu. Sei que no dia em que eu mais estava mal, no dia 31 de maio, minha mãe recebeu um abraço e esse abraço transmitiu a segurança que ela precisava para saber que eu iria sair daquele CTI.

Se agora é o aniversário dele, ano passado foi eu quem ganhou o presente. Ganhei o que eu mais tinha de precioso e coisas além. Ganhei a vida e alegria de viver, aprendi coisas pelas coisas não sabia que poderia aprender.

Hoje agradeço a Deus por todo aprendizado e por ter colocado pessoas iluminadas em meu caminho. Em especial por aquele neurologista, de nariz empinado que é super convencido por que na maioria das vezes acerta, e que, aliás, ele pode ser convencido. Eu sou um milagre, que Deus utilizou de seu talento para transformar.

E o que posso desejar é que ele continue abençoado e iluminado, por que se existe anjos aqui na terra, eu encontrei o meu o no dia em que eu mais precisei, e ele me ajudou de todas as formas possíveis. Não preciso e não vem ao caso dizer o quanto ele fez por mim, o quanto foi e se tornou importante em minha vida. E que claro, vou agradecer milhões de vezes, por que não é sempre que você para de respirar por uns instantes e recebe em troca pessoas maravilhosas em sua vida.